domingo, 12 de abril de 2015


Os jornais me assustam. Abro um deles e tenho a leve impressão de Eduardo Cunha é retratado como herói ao "se vingar daqueles que impediram sua ascensão política". Os veículos de comunicação deveriam ter cuidado ao escolher o formato de suas palavras. Em outra página da mesma edição, um editorial culpa a intervenção do Estado na economia pela corrupção nacional endêmica. O Ombudsman - sempre achei essa palavra estranha, uma mistura de homem com nádegas - rateia considerando a cobertura das últimas notícias como pouco preocupada com a profundidade e com a discussão séria dos acontecimentos.
Em meio à onda ultraconservadora do Congresso Nacional, à escalada de sandices colocadas em pauta como projetos de lei - vide a ideia anti trabalhista de terceirização e alardeada inclusive por jornalistas irresponsáveis como de responsabilidade do Governo Federal, a redução da maioridade penal -, pessoas vão às ruas hoje para protestar contra a corrupção e contra um governo infestado de casos de corrupção.
A segunda parte do episódio está certa. O grande problema é a primeira: os projetos de lei estapafúrdios, o contentamento das massas sem alterar a estrutura nacional, o endurecimento de nossas leis de forma assustadora, a crise educacional corroborada por mais uma greve de professores em São Paulo.
A meu ver, um dos grandes problemas é a parcialidade nisso tudo. Os tais manifestantes de hoje não levantam a bandeira para criticar os temas acima colocados, mais relevantes do que a corrupção localizada no caso batizado de "Petrolão".
Vamos então à sequência: corrupção endêmica noticiada pela mídia de forma esdrúxula, leis criadas para acirrar as relações entre patrões e empregados (um 'viva' à luta de classes), e no final das contas a população sai às ruas para protestar contra a corrupção do Estado - e que tem a própria onda manifestante como sócia nas propinas. Aonde foi parar a lógica?

Dito isso, corroboro as ideias de Antonio Prata nesse texto.

'Se fosse um ato de repúdio à desigualdade e à injustiça que se perpetuam, eu iria pra rua, hoje, acusar o governo. Mas pra andar atrás de um trio elétrico que estampa a imagem de uma mão sem o mindinho, ao lado de famílias que fazem "selfies" com a Tropa de Choque, licença: "Soy contra".'

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2015/04/1615517-as-ideias-fora-do-lugar.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário